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Olhares Azuis

Aqui por casa, 7 pares de olhos azuis.

Olhares Azuis

Aqui por casa, 7 pares de olhos azuis.

11 anos

Das festas da aldeia, eu não falhava uma. Natal, Carnaval, Páscoa e as outras tantas. Lembro-me que numa dessas tantas festas, tinha eu 9/10 anos, passou por mim uma rapariga, mais ou menos da minha idade, que eu nunca tinha visto por ali. Raparigas passavam muitas…por aí não havia novidade. Mas esta era diferente. Ia com a irmã mais nova e, ao passarem por mim junto às mesas de matraquilhos, reparei logo que o cabelo delas chegava aos joelhos...que grande cabelo:

- Olha lá! Esses cabelos são para limpares o rabo quando se acaba o papel?

Ela olhou para mim, fez-me uma careta, chamou-me parvo num sotaque meio estranho e pisgou-se. E eu fiquei-me a rir feito parvo. Soubesse eu o que sei hoje…Adiante.

 

 

No meu 11º ano conheci uma rapariga por intermédio de amigas comuns...nada de mais nesta nova amizade...fazíamos equipa nos matraquilhos da escola, cravava-lhe uns trocos de vez em quando, cumprimentáva-mo-nos no primeiro intervalo em que nos víssemos. Por aqui nada de diferente em relação a outras raparigas que conhecia.

Até que houve um dia em que, quando ia para a cumprimentar, ela se baixou. Talvez para apanhar algo caído no chão, mas o certo é que eu apanhei uma balda e fui para a aula um bocado chateado -“Então aquela gaja faz-me isto?! Eu vou cumprimentá-la e ela dá-me uma balda?”-. Ora essas nossas amigas comuns vieram depois ter comigo e disseram que ela me tinha mandado um beijinho especial, para compensar...Mentira...Eram elas a arranjar caldinho...E eu, tungas, mandei outro para ela.

Já aí eu sentia algo quando passava por ela, e notava que ela olhava para mim de maneira diferente. Vai daí convidei-a para ir almoçar a minha casa para em seguida irmos para a praia. Eu estava em casa a fazer um trabalho com  um colega meu e ela ía lá ter com uma amiga. Almoçámos, eu, como sempre, a fazer figuras tristes, e fomos pra´beach.

Ao longo dessa tarde, muitos joguitos, banhos, agarranços e tudo aquilo que se faz na praia além de observar as meninas e aquilo que a Mãe Natureza lhes deu.

No Sábado seguinte ela estava caídinha outra vez em minha casa...À noite, pais fora de casa, os dois sozinhos no meu quarto. Conversa daqui, conversa dali e eis que, de repente, nos  viramos um para o outro e dizemos ao mesmo tempo:

-Tenho uma coisa para te dizer.

Silêncio.

Eu, com medo de perguntar se ela queria namorar comigo porque, por um lado achava isso coisa de crianças, e por outro porque não queria ouvir um não...

Ela, com vontade de me dar uma beijo (ela própria me contou isso mais tarde), mas com medo de ser rejeitada.

E ficámos calados. E apareceram os meus irmãos.E ela foi para casa.E eu sonhei com ela.

 

Segunda-feira, nova semana, voltámos às nossas conversas...

E Terça-feira de manhã também...

E Terça-feira à tarde já não.

Estávamos sentados nos bancos ao lado dos antigos Galinheiros da Escola de Portela. Estava calor...pelo menos naquele banco...no resto não sei...nem me interessava. Conversávamos de algumas coisas banais, outras nem tanto. Ela engasga-se numa palavra:

- Tou com a boca seca. – Diz ela.

- Tás desidratada...

- Então molha-me...

Juro que foi a primeira vez na minha vida que tive a certeza do que uma rapariga queria. Beijei-a...durante muito tempo...muito muito tempo.E ela beijou-me a mim.

E quando saímos daquele banco, fomos de mãos dadas.

 

 

Pois é, quão estranha é a vida...

A rapariga dos cabelos pelo joelho na festa da aldeia...

A rapariga do beijo no banco da escola...

 

Casei-me com ela.


 

Faz hoje 11 anos que a "hidratei"...

Parabéns por me teres aturado este tempo todo.

G.

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